quinta-feira, 19 de agosto de 2010

VolksWagen, sexo e futebol

Hoje trago uma questão diferente. 
Resolvi entrar um pouco no delicado meio de boa parte dos blogueiros e consultores brasileiros, abordando algumas de suas práticas de fala e escrita, seus vícios, meias verdades, e análises simplistas ou míopes.

Ressalto que boa parte deles (se não todos) são consideravelmente melhores do que eu, não só nos quesitos qualificação acadêmica e profissional, mas principalmente pela capacidade de comunicação e persuasão que geralmente apresentam. Entretanto, ainda assim, me atreverei a questionar um dos seus hábitos mais comuns.

Para exemplificar, usarei um comentário feito por uma renomada jornalista, que optei por chamar de Magali VolksWagen*, pelo notório domínio que aparenta (leia se 'gostaria de') ter sob o universo organizacional de ambos os sexos.

É notório que a inteligência do ser humano é limitada. Que não consegue assimilar bem a complexidade do universo nas mais recorrentes relações onde está inserido, por isso, procura a representação da realidade através de esquemas, gráficos e relações de causa e efeito que desconsideram os inúmeros atores secundários que a influenciam.

Foi assim que Magali disse saber explicar o motivo pelo qual os homens são mais bem sucedidos profissionalmente que as mulheres, considerando a igualdade etária e acadêmica.

A justificativa é... gostar e jogar futebol.
Potencial melhor executivo do mundo

(Tive que contar essa para minha mulher!)

Em sua explanação, 'Volks' desfilou toda uma analogia entre o lazer e o labor.
Da necessidade de trabalho em equipe à formação da liderança, passando pelos processos decisórios, resolução de conflitos, competição, motivação, conciliação, colaboração, vitória (confraternização) e derrota (superação).

Segundo ela, desde pequenos os homens aprendem e praticam alguns dos mais importantes conceitos nas relações de trabalho, mesmo sem ter ciência disso.

O mau humor do post de hoje é direcionado à postura tomada por boa parte dos consultores e analistas organizacionais, se posicionando como 'redescobridores da roda' e de donos de um poder de análise e síntese que os autopromove a donos da verdade.

A analogia dessa repórter é muito boa. Mas, honestamente, não pode ser defendida como a única, nem como a principal causa de um quadro infinitamente mais complexo. Honestamente? Acho que nem seria uma delas.
Improvável turma feminina da Harvard Business School

Ou então o país pentacampeão mundial deveria figurar como a nação de CEOs mais bem sucedidos internacionalmente.

E se a situação fosse inversa? Se as estatísticas demonstrassem uma valorização maior do sexo feminino?

Estou quase certo de que encontraríamos um pseudo-oráculo defendendo a tese de que as mulheres têm desempenho e reconhecimento superiores ao do sexo oposto por que enquanto os homens estão preocupados com as brincadeiras e fanfarronices de um esporte nada edificador, elas estão dedicadas a ações artísticas mais refinadas e que simulam as interações sociais presentes na vida pessoal e profissional, como as novelas e os seriados de TV, onde o posicionamento como observador as permite analisar situações de conflito, sem o envolvimento pessoal.

Em outras palavras, como uma atividade como o futebol, recheada de rivalidades vãs, brigas e palavrões injustificados, ou seja, uma prática que regride a mente humana a atitudes primitivas e irracionais, onde não se consegue aplicar conceitos humanísticos básicos como a diplomacia ou a famosa relação ganha-ganha poderia promover alguma melhoria comportamental no ser humano?

* O leitor consegue identificar quem é a repórter?

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