sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Bumba e a curva

Na noite do último dia 08 tive a infeliz oportunidade de ouvir o prefeito de Niterói ser responsabilizado pelo soterramento de dezenas, talvez centenas de pessoas no morro do Bumba (um lixão desativado a mais de 30 anos) devido às fortes chuvas que ocorreram no local ultimamente.

Bumba depois do desastre
O repórter que o entrevistava, claramente conduzia a conversa para uma espécie de interrogatório, do qual o prefeito (cujo nome nem me lembro), tentava se esquivar e por mais de uma ocasião, se contradisse: ora assumia a responsabilidade de ter se omitido da remoção das pessoas, ora alegava ter informações de que o local não oferecia riscos consideráveis.

Isso me fez lembrar de outro fato.

A poucos meses, culparam também o prefeito de minha cidade por ter desativado um dos radares fixos (conhecidos também pelo nome de pardais) de uma via semi-expressa e ter gerado inúmeros acidentes automobilísticos ali, uma vez que a ausência de fiscalização ostensiva contribuiu para o aumento da velocidade dos condutores.

O interessante foi que nenhum dos acidentes registrados no local envolvia pedestres, ou seja, apenas os condutores e passageiros sofriam com uma curva fechada, que, se feita em velocidade incompatível com sua angulação, não conseguiam manter o veículo na pista e acabavam dentro do principal rio da cidade.

Acho, particularmente, estranho...

Os moradores do Bumba não sabiam do risco que corriam?

O chorume que jorrava ao lado das casas não representava nada?

A placa de trânsito, limitando a velocidade em 60 km/h e o aviso de curva perigosa servem apenas apenas de tiro ao alvo?

Não consegui condenar as prefeituras...

As transferências de culpa da população para outras entidades não pode ser aceita de forma tão natural.


Para tirar certeira de habilitação, os postulantes tem que ser alfabetizados e maiores de 18 anos.
Para construir uma casa em qualquer lugar que seja, primeiro se avalia o terreno (nem que seja apenas visual ou olfativamente).

Os prefeitos, governadores, presidentes, policiais, bombeiros, juízes, etc. não poderiam ser vistos como babás de pessoas em pleno gozo das suas faculdades mentais e do direito constitucional de fazer tudo o que a lei não proíbe.

O Estado mandou alguém construir uma toca, que seja, no alto de uma montanha de lixo?
Quem foi que pisou no acelerador (ou não pisou no freio) antes de uma curva de noventa graus?


Bom, não é a ideia deixar o blog com o viés político que ele está tomando, por isso, acho melhor parar por aqui.

Talvez no próximo, escreva algo relacionado à forma com que as pessoas costumam tratar a causalidade de seus sucessos e fracassos (teoria da atribuição)... talvez não...

Enfim, este post já está ficando grande demais. Prefiro deixar a reflexão psicológica para uma próxima ocasião.

Até lá.

Um comentário:

Marcel Lima disse...

Optei por comentar meu próprio post porque acho que devo algumas explicações.

Tenho recebido alguns retornos de pessoas que consideraram meu texto um tanto quanto frio em relação ao sofrimento de muitos seres humanos, que se hospedam em áreas de risco por total falta de opção.

Por favor, nunca foi minha intenção condenar pessoas por escolhas, ou por falta delas. O sentido que tentei dar às minhas palavras era de que não podemos condenar UM personagem, por uma tragédia coletiva.

Os responsáveis são plurais. O governo tem sim sua parcela considerável de culpa, mas será que realmente poderia ter retirado as famílias do Bumba? Tinha orçamento para isso? O Bumba é o único local de risco do RJ? Adiantaria "descobrir um santo para vestir outro"? Se não houvessem obras infraestruturais no local, a mídia se conformaria?

Os ocupantes de cargos eletivos têm que ser responsabilizados, mas assim como eles, não podemos isentar de culpa, a própria população, e, inclusive, atores naturais como o relevo e o volume d'água que caiu sobre a região.

Não pensem que não me sensibilizo com as imagens veiculadas a todo momento. A cada notícia me sinto claustrofóbico como se estivesse vivendo o problema, com toneladas de terra e lixo estivessem sobre meu corpo.

Espero ter desfeito a má impressão que causei.

Peço perdão se ofendi alguém ou se passei impressões equivocadas.

Reitero, não houve intenção, mas... não mudei de opinião.