Não, não... ao contrário do que diz o título do post, não vou falar sobre a arrecadação ou da isenção fiscal das igrejas, nem da reputação dos líderes religiosos, da entrega incondicional dos crentes e da facilidade com que muitos são persuadidos, da impressionante proliferação de instituições, tampouco das contradições entre o que é pregado nesses locais e o instrumento base da maioria (a bíblia), seus rituais, hábitos, referências, etc.
Hoje o motivo é, digamos, menos nobre. Quem sabe um outro dia posso descrever toda a minha complexa teoria anti-religiosa (mas muito crente!) a respeito das instituições que se denominam a verdadeira igreja de Deus.
Falar do tema é sempre polêmico, por isso dizem que religião não se discute. Mas o que vou propor aqui é extremamente pontual, além de ter um embasamento científico aplicado.
Recentemente uma nova igreja foi inaugurada a um quarteirão de minha casa. E desde então, durante seu funcionamento, não conseguimos conversar, ler, assistir TV, dormir e sei lá mais o que... plantar mandioca sem pensar em Sodoma e Gomorra... e mais um milhão de outras coisas. Não dá pra fazer nada!
"Outroção sem nossão" |
Tive uma trindade de insights:
A primeira resposta foi quase imediata: Passe em frente a um local desses e repare em quantas pessoas estão realmente prestando atenção no 'mestre de cerimônias'.
Agora imagine se ele tivesse à sua disposição apenas o poder mágico de suas pregas vocais. Não dá... ninguém olha pro sujeito, que fica ali, falando um sem-número de palavras desconexas, enquanto ouve outros gritos em resposta!
Agora imagine se ele tivesse à sua disposição apenas o poder mágico de suas pregas vocais. Não dá... ninguém olha pro sujeito, que fica ali, falando um sem-número de palavras desconexas, enquanto ouve outros gritos em resposta!
Tá, mas nem toda igreja tem aquele monte de gente berrando "Aleluias", "Glória a Deus" e "Améns" (que muitos nem sabem o significado) a torto e a direito. Então, a segunda resposta foi a intenção que a igreja teria, de chamar a atenção daqueles que estão fora das suas dependências, com o intuito de que pudessem ser tocados pelas palavras.
Bom, tirando que o som mais repele que atrai, uma terceira resposta ganhou força.
Esta justificativa foi a que eu achei a mais interessante: o barulho infernal (com o perdão do trocadilho) funciona como um um grande alívio, tão logo cessa, gerando no fiel a sensação de que todo o peso e o incômodo que ele carregava até então, ficou na igreja.
Como assim?
Ora, depois de horas de som desafinado e altíssimo, muitas vezes potencializado pelo eco e por uma grande parte dos presentes, além de assentos incômodos e falta de ventilação, tudo o que o corpo quer (mesmo que subconscientemente) é sair daquela situação.
O silêncio pós culto deve ser alucinante! Libertador!
Se vai gritar, larga a porra do microfone |
Aí fica fácil atribuir essa ótima sensação ao tempo passado no interior da igreja, gerando a impressão de que todos os seus problemas foram resolvidos. Ficaram lá.
Daí deve ter saído o nome de 'sessão descarrego', que muitas usam.
O único problema é que eu não sinto o tal descarrego, pelo contrário, fico 'pilhado'!!!
As leis do silêncio, que muitas cidades editaram (e na minha não é diferente), busca proteger cidadãos comuns do incômodo doloso provocado pela emissão de som, geralmente, acima de 70 decibéis.
Também é importante destacar que é um mito essa ideia de que é somente entre 10h da noite e 04h da manhã que a lei delimita a poluição sonora.
Então, gostaria de que meus adoráveis vizinhos venerassem seu deus-surdo no raio que os parta! Ou então aproveitem parte do dízimo para comprar alguns aparelhinhos para direcionar os sons dos seus microfones para fones de ouvido e isolem as paredes dessa merda acusticamente!
Por mais que queiram, meus queridos, o volume das suas caixas de som não chega no céu! E outra: Não precisa chegar. Ou seu deus não é onipresente?
É sério, se o paraíso for assim, eu prefiro ouvir a maravilhosa sinfonia das labaredas misturada ao reconfortante cheiro de torresmo do subsolo.
Que Deus esteja convosco... e me perdoe mesmo que eu não me arrependa do que disse...
Amém!
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