sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Pequenas Igrejas, Grandes Negócios

Não, não... ao contrário do que diz o título do post, não vou falar sobre a arrecadação ou da isenção fiscal das igrejas, nem da reputação dos líderes religiosos, da entrega incondicional dos crentes e da facilidade com que muitos são persuadidos, da impressionante proliferação de instituições, tampouco das contradições entre o que é pregado nesses locais e o instrumento base da maioria (a bíblia), seus rituais, hábitos, referências, etc.

Hoje o motivo é, digamos, menos nobre. Quem sabe um outro dia posso descrever toda a minha complexa teoria anti-religiosa (mas muito crente!) a respeito das instituições que se denominam a verdadeira igreja de Deus.

Falar do tema é sempre polêmico, por isso dizem que religião não se discute. Mas o que vou propor aqui é extremamente pontual, além de ter um embasamento científico aplicado.

Recentemente uma nova igreja foi inaugurada a um quarteirão de minha casa. E desde então, durante seu funcionamento, não conseguimos conversar, ler, assistir TV, dormir e sei lá mais o que... plantar mandioca sem pensar em Sodoma e Gomorra... e mais um milhão de outras coisas. Não dá pra fazer nada!

"Outroção sem nossão"
Fiquei me perguntando por que será que uma igreja que funciona numa garagem inativa precisa de microfones, caixas de som e instrumentos elétricos, além de tanta gritaria?


Tive uma trindade de insights:

A primeira resposta foi quase imediata: Passe em frente a um local desses e repare em quantas pessoas estão realmente prestando atenção no 'mestre de cerimônias'.
Agora imagine se ele tivesse à sua disposição apenas o poder mágico de suas pregas vocais. Não dá... ninguém olha pro sujeito, que fica ali, falando um sem-número de palavras desconexas, enquanto ouve outros gritos em resposta!

Tá, mas nem toda igreja tem aquele monte de gente berrando "Aleluias", "Glória a Deus" e "Améns" (que muitos nem sabem o significado) a torto e a direito. Então, a segunda resposta foi a intenção que a igreja teria, de chamar a atenção daqueles que estão fora das suas dependências, com o intuito de que pudessem ser tocados pelas palavras.
Bom, tirando que o som mais repele que atrai, uma terceira resposta ganhou força.

Esta justificativa foi a que eu achei a mais interessante: o barulho infernal (com o perdão do trocadilho) funciona como um um grande alívio, tão logo cessa, gerando no fiel a sensação de que todo o peso e o incômodo que ele carregava até então, ficou na igreja.

Como assim?

Ora, depois de horas de som desafinado e altíssimo, muitas vezes potencializado pelo eco e por uma grande parte dos presentes, além de assentos incômodos e falta de ventilação, tudo o que o corpo quer (mesmo que subconscientemente) é sair daquela situação.

O silêncio pós culto deve ser alucinante! Libertador!

Se vai gritar, larga a porra do microfone
O êxtase pode ser sentido pela leveza com que os participantes saem do local. Dá pra notar o alívio na cara de cada um!

Aí fica fácil atribuir essa ótima sensação ao tempo passado no interior da igreja, gerando a impressão de que todos os seus problemas foram resolvidos. Ficaram lá.

Daí deve ter saído o nome de 'sessão descarrego', que muitas usam.

O único problema é que eu não sinto o tal descarrego, pelo contrário, fico 'pilhado'!!!

As leis do silêncio, que muitas cidades editaram (e na minha não é diferente), busca proteger cidadãos comuns do incômodo doloso provocado pela emissão de som, geralmente, acima de 70 decibéis.

Também é importante destacar que é um mito essa ideia de que é somente entre 10h da noite e 04h da manhã que a lei delimita a poluição sonora.

Então, gostaria de que meus adoráveis vizinhos venerassem seu deus-surdo no raio que os parta! Ou então aproveitem parte do dízimo para comprar alguns aparelhinhos para direcionar os sons dos seus microfones para fones de ouvido e isolem as paredes dessa merda acusticamente!

Por mais que queiram, meus queridos, o volume das suas caixas de som não chega no céu! E outra: Não precisa chegar. Ou seu deus não é onipresente?

É sério, se o paraíso for assim, eu prefiro ouvir a maravilhosa sinfonia das labaredas misturada ao reconfortante cheiro de torresmo do subsolo.

Que Deus esteja convosco... e me perdoe mesmo que eu não me arrependa do que disse...

Amém!


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